terça-feira, 25 de setembro de 2012

Luso-Scandinavian Avant Music Orchestra


[...] É a nata de duas coincidentes realidades “a Sul” que encontramos, pois, neste concerto da Luso-Scandinavian Avant Music Orchestra. Sob a direcção de Raymond Strid (bateria, percussão), David Stackenas (guitarra), Sture Ericson (saxofones tenor e barítono, clarinete, clarinete baixo), Per Zanussi (contrabaixo), Per-Ake Holmlander (tuba) e Sten Sandell (piano, harmonium, sintetizador, voz) associam-se a Rodrigo Amado (saxofones alto, tenor e barítono), Nuno Rebelo (guitarra eléctrica), Ernesto Rodrigues (viola), João Paulo Esteves da Silva (piano, piano eléctrico, acordeão) e Gabriel Ferrandini (bateria) para uma improvisação colectiva que será, com certeza, um sinal das transformações que estão a processar-se a bem da música e de quem a ama, em igualdade de capacidades e circunstâncias, numa perspectiva de saudável cooperação. Um momento histórico, em suma. Rui Eduardo Paes

sábado, 22 de setembro de 2012

FESTIVAL MÚSICA VIVA




photo: Ernesto Rodrigues with Radu Malfatti and Ricardo Guerreiro


Na edição de 2012 do Festival Música Viva, esta quinta-feira, 21 de setembro, na Sala de Ensaios do Centro Cultural de Belém, em estreia absoluta, apresentou-se o trio de Ernesto Rodrigues (ER), Radu Malfatti (RM) e Ricardo Guerreiro (RG). Ao longo de cerca de três quartos de hora, o trio patenteou uma espantosa capacidade de criar e elevar a tensão, preservando a chama lenta, de baixa intensidade, reducionista mas calorosa. Assinalável, o modo como a música evoluiu a partir de um mínimo de atividade sonora, zonas cinzentas, silêncio espetral, pigmentos luminosos em suave justaposição. Mínimo, à superfície, porque mergulhado o ouvido nas profundezas do silêncio entre sons, descobriu-se uma energia subliminar latente nas camadas inferiores, um mundo insinuante de infinitas combinações, empoladas pela sucessão de amplos silêncios, tonalidades quentes das texturas do trombone (e tubos) de RM, detritos electrónicos e processamento sonoro de RG, e das práticas e procedimentos heterodoxos da viola de ER, longe dos sons e timbres tradicionais do instrumento – em torno de um núcleo essencial de subtileza, serenidade e contemplação. Um concerto para fruir em máxima concentração, tarefa que se revelou difícil para os não iniciados nas instâncias da improvisação electroacústica moderna (reducionismo e desenvolvimentos posteriores), já que parte do público não parava sossegada na cadeira (eléctrica!), qual bicho-carpinteiro irritante, entretido a fazer ranger o mobiliário e a sofrer de constipações impertinentes. Apesar dos ruídos parasitários "estranhos ao serviço", assistiu-se à construção em tempo real duma música de ínfimos detalhes ("coisas inconsideráveis", Rilke), que vale tanto pelo que "diz", reelaborando sobre texturas e materiais sonoros aditados e subtraídos, como pelo que "cala", entre deixas, intervalos, nuances e reverberações. O resultado foi a criação de um universo de complexas e inusitadas dinâmicas, capaz de transportar o espectador para longe, graças a um complexo de imagens sonoras desafiantes da audibilidade e, ao mesmo tempo, estimulantes da imaginação. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)