quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ENSEMBLES - Ernesto Rodrigues em versão big


photo: Ernesto Rodrigues & Manuel Mota

Improvisar sem partituras com uma orquestra ou um grupo com grande número de elementos é particularmente difícil, havendo mesmo quem jure ser impossível. O violetista de Lisboa encontrou nisso um desafio e com projectos como Variable Geometry Orchestra, IKB, Suspensão e Diceros vem ultrapassando problemas e propondo maravilhas. A jazz.pt ouviu os discos…

Há três figuras que ganharam o estatuto de pivôs da cena da improvisação em Portugal. Um devido ao seu pioneirismo, dando origem a uma movimentação que tem crescido exponencialmente, outro porque criou um sistema muito específico que se tornou num modelo referencial e um terceiro que vem mobilizando um grande número de músicos das mais variadas áreas em torno dos seus projectos. No primeiro caso está Carlos “Zíngaro”, com a mais-valia de se ter mantido na linha da frente de uma música continuamente em renovação. No segundo, evidencia-se Sei Miguel, com metodologias que influenciaram decisivamente as práticas de algumas importantes figuras hoje em actividade, começando por Rafael Toral, Manuel Mota e Pedro Gomes. Finalmente, no terceiro caso encontramos Ernesto Rodrigues, cujos “ensembles” alargados envolvem uma boa parte dos agentes da cena lisboeta da música improvisada, independentemente das suas orientações estéticas.
Mas não é só: as mais recentes edições das “big bands” de Rodrigues, designadamente Variable Geometry Orchestra (mais conhecida como VGO), IKB, Suspensão e a recém-estreada Diceros, têm dado novos e muito positivos contributos para esse difícil empreendimento que é improvisar – sem partituras nem motivos previamente estabelecidos – em formato orquestral. Nesse aspecto, também ele tem uma fórmula pessoal para enfrentar os problemas organizacionais levantados pelo contexto. Uma perspectiva muito sua, e transferida dos pequenos grupos de que partiram para outros que vão dos oito elementos a quase 50, dos conceitos propostos pelo Spontaneous Music Ensemble de John Stevens e pelos AMM de Cornelius Cardew, tendo como exemplos pelo meio o que fez a Globe Unity Orchestra e mais recentemente a London Improvisers Orchestra. Outras referências parecem ser John Cage (uso do silêncio), Morton Feldman (não-linearismo) e Emmanuel Nunes (os, no compositor, característicos “alongamento” e “dobragem” das estruturas musicais).

[…] A importância de Ernesto Rodrigues na música criativa portuguesa está ainda à espera, por cá, do reconhecimento que lhe é devido, e isto não obstante ser o improvisador nacional com mais discos lançados. Estes que nesta página vos apresentamos projectaram-no no mundo, com a imprensa especializada a elogiá-lo entusiasticamente. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)